quarta-feira, março 31, 2004

É preciso pensar



Hoje estava eu a caminho de mais uma jornada de estudo, e como habitual encaminhei-me para o palacete da OA, mas hoje ia com particular atenção ás ruas esburacadas e empoeiradas da minha cidade, transeuntes caminhavam frenéticamente para cima e para baixo abstraídos do mundo, com seus cerebros cheios de seus problemas quotidianos, não vendo nada em frente, os prédios encontravam-se num silêncio soturno, só interrompido por conversas de varanda de vizinhas acerca da última cena de uma qualquer novela. Por seu lado os estudantes, que deveriam ser do Técnico encaminhavam-se silênciosamente para as suas aulas, num passo lento e desinteressado, de rostos cansados e perturbados, não entendi muito bem porquê, talvez tivessem algum teste para o qual não tinham estudado, continuei meu percurso de passo lento e atento, com alguns policias me cruzei, também eles muito entretidos com o seu livro de multas e seu guia da cidade, concerteza a preparar a boa acção dia, suas caras não inspiravam confiança, um deles tinha uma cara de um vilão saído dos filmes de terceira categoria de holiwood, mas lá continuei meu caminho Alameda a baixo, quando me deparei comigo a pensar sobre a amizade, na felicidade que é a verdadeira amizade, e na maravilhosa conclusão a que meus cansados neurónios chegaram, na realidade por mais problemas e zangas que duas pessoas possam ter, se houver de ambas uma verdadeira amizade tudo é suportavel, até mesmo o mais grave dos defeitos, a traição e a mentira, pois nessa mesma manhã tinha compreendido isto, aliás coisa que nunca duvidei, mas que no entanto andava turvo na minha cabeça, e com estes pensamentos, coloquei um sorriso nos lábios e com mais vontade ainda, continuei meu caminho. Entrei no metro, por muitas pessoas passei, que mais pareciam bonecos sem reacções, talvez automatos a acotovelarem-se para entrar no transporte subterraneo, mas lá com sacrificio eu e meu manual conseguimos entrar dentro do metro, seguindo caminho, conversas poucas ouvi, apenas os resmungares das senhoras da sociedade, ou pensam elas que são, a queixarem-se dos apertos. Por fim, depois de tormentosa viagem cheguei ao meu desejado destino, entrando agora noutra paisagem, uma linda praça do Rossio, plantada de pessoas de todas as raças e credos, conversando frenéticamente, esperando não sei bem o quê, vendedores de rua vendendo os seus últimos guarda chuvas, advinhando as últimas chuvas de Inverno. Entretanto fui ao meu estudo, que tive de partilhar com o barulho das obras, tendo aí passado três produtivas horas, terminado vim-me embora voltando à confusão da urbe, e pensando na cidade que temos, e o que temos na realidade?, cidadãos que não passam de automatos, virados apenas para os seus problemas quotidianos, vizinhas que passam as tardes a discutir as ultimas cenas das novelas, guardas entretidos com as multas e os turistas, estudantes com pouca vontade de estudar, uma cidade cheia de outras raças e credos, e cheia de desrespeito civico e intelectual, situações que me deixam a pensar como cidadão preocupado, que me deixam triste e amargurado, tudo isto quando apenas queria ir estudar um pouco o meu manual, mas no entanto meu espirito é incapaz de não ver o que me rodeia, talvez seja esse o problema da minha sociedade, da minha comunidade, mas logo de seguida meu espirito se renova de alegria, quando penso no dia de hoje, e sei que a amizade pura sobreviveu ao mais duro dos testes, e enquanto tiver e tivermos amizades puras e desinteressadas, poderei e poderemos continuar a caminhar alegre, livre e entusiasticamente pelas ruas da minha e da vossa cidade.

PS: Não dá tudo isto vontade de pensar e reflectir?, mas será que todos ainda o conseguirão fazer? conseguirá alguém viver sem amizades puras?conseguiram as pessoas viver muito mais tempo abstraídas do mundo?...bem, muitas mais questões podia colocar aqui...quero ver se alguém tem coragem de deixar algum comentario, se tem o intelecto suficiente para pensar nestas coisas, umas mais directamente apreendidas que outras...é um desafio...será que o aceitam?